Pesquisadores de Cruz das Almas descobrem nova espécie de planta na Bahia
Descobertas científicas são feitas todos os dias. Sejam no Brasil ou na China, espécies novas ou antigas são sempre objetos de estudo para os alunos da área científica. A bióloga Lidyanne Aona e professora na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), por exemplo, descobriu uma nova espécie de planta na Mata da Cazuzinha, no município de Cruz das Almas. O gênero Dichorisandra, que tem sido estudado desde o doutorado de Lidyanne, apresenta bastante diversidade no estado da Bahia.
“No meu doutorado, tinha encontrado alguns materiais herborizados (e depositados nos herbários) muito diferentes, mas que não foram possíveis de identificar taxonomicamente essas plantas com 100% de certeza. Depois que vim trabalhar na UFRB como docente, pude ir mais vezes a campo com meus alunos e visitar herbários”, explicou a doutora. De acordo com ela, o trabalho feito junto com seu aluno e orientadores foi iniciado em 2008, quando começaram a montar o quebra-cabeça.
“Um amigo me enviou umas fotos de uma planta que ele tinha coletado em Jequié e achei muito parecida com as que tinha visto aqui na Mata da Cazuzinha. Em 2018, propus que um aluno do curso de Recursos Genéticos Vegetais da UFRB estudasse essa espécie aqui em Cruz das Almas. Após estudos sobre a biologia floral e reprodutiva de Dichorinsadra rhizantha e acompanhamento de dois anos sobre essas populações, em 2021, fiz mais uma coleta em Muritiba e pude ter certeza de que se tratava realmente de uma espécie nova para a ciência”.
Lidyanne afirmou que as espécies novas são descritas regularmente por botânicos e zoólogos que trabalham no Brasil. No doutorado dela foram descobertas 25 novas espécies para Mata Atlântica, o que mostra quantas espécies já foram destruídas antes que a ciência tivesse a chance de descrevê-las. “Toda e qualquer espécie nova para ciência é importante. Imagina extinguir um organismo antes mesmo que ele possa ser reconhecido? É bem triste. Para a UFRB e para o curso de mestrado em RGV e para o município de Cruz das Almas e para a Bahia, é importante, pois Dichorisandra rhizantha é endêmica desses locais da Bahia. Isso quer dizer que ela só ocorre nesses locais no mundo todo! Já imaginou isso? Acabou lá, acabou a espécie”.
A doutora em Biologia Vegetal lembra também que as plantas dão “comida” (recursos florais) para as os polinizadores (no caso de D. rhizantha, os principais polinizadores são as abelhas) e que, muitas vezes, são polinizadores de plantas importantes para o ser humano. “Já foi descoberto que plantações de café, por exemplo, produzem mais quando há mata virgem ao lado, onde ocorrem abelhas polinizando as flores do café. Assim, não são vantagens imediatamente visíveis, mas indiretamente envolvidas na conservação desses ambientes e, consequentemente, dessas espécies”.
A ideia do grupo de pesquisa é monitorar a partir de agora, essas populações nos locais mais próximos de Cruz das Almas e iniciar outros estudos. Segundo Lidyanne, algumas espécies de Dichorisandra apresentam estudos de potencial medicinal, porém ainda pouco explorado e estudado. “Nesse fragmento florestal de Cruz das Almas, a Mata da Cazuzinha, seria interessante estudar outras monocotiledôneas herbáceas, como Bromeliaceae, Iridaceae, Marantaceae e verificar se apresentam o mesmo comportamento de D. rhizantha. Além disso, ainda queremos saber como é o processo de dispersão dessa espécie dentro da mata, pois essa parte deste estudo foi interrompida no mestrado do meu aluno por causa da pandemia”.
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