Nesta terça (11), os fãs da Legião Urbana têm mais um motivo para relembrar a banda. Esta é a data em que Renato Manfredini Júnior, o Renato Russo, morreu há 26 anos. Hoje, a banda, que acumula cerca de 14 milhões de álbuns vendidos, ainda é lembrada como uma das mais importantes do rock nacional – e Renato como um compositor ímpar, com letras que marcaram gerações e que até hoje mantém um fiel séquito de fãs e admiradores.
Nascido no Rio de Janeiro, Renato Russo passou grande parte de sua vida em Brasília, local onde a Legião foi formada. O cantor morreu cedo, em 1996, aos 36 anos, em decorrência de complicações de saúde por conta do HIV. Logo após sua morte, os outros dois integrantes do grupo, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, anunciaram o fim oficial da Legião Urbana.
Aos 13 anos, o cantor, junto à sua família, deixou o Rio em direção a Brasília. A contextualização da trajetória de Renato Russo com a cidade foi retratada na biografia Renato Russo – O Filho da Revolução, do jornalista Carlos Marcelo Carvalho. O fato de Renato ter nascido no mesmo ano em que Brasília foi inaugurada atraiu o autor, que decidiu então elaborar o livro, fruto de nove anos de pesquisa e mais de 100 entrevistas.
“Renato era um símbolo de um processo muito intenso que aconteceu no Brasil na segunda metade do século XX. Isso era muito simbólico, mas nada teria importância se ele não tivesse refletido esse aspecto nas suas letras, especialmente na primeira fase da Legião”, disse o autor, em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil.
Mais do que letras de amor, Renato elaborava composições engajadas, que exprimiam a realidade que não só ele vivia, mas também sua geração.
“Falava de valores que eram muito importantes para jovens do Brasil inteiro. Essa habilidade que ele tinha de criar uma experiência coletiva, a partir do individual, talvez seja o que contribua para que a obra dele permaneça tão atual”, acredita Carlos, concluindo que Renato pode ser tido como “um grande cronista de seu tempo.”
Artista nato
Renato permaneceu em Brasília por 12 anos, período em que exerceu diversas atividades, de professor de inglês a jornalista de rádio. Pisou em um palco pela primeira vez como ator de teatro e teve seu primeiro material publicado não em uma canção, mas em um livro de poesias marginais. Renato baseava-se no que lia, no que vivia e no que observava ao seu redor para escrever. “Essas três coisas foram essenciais para compor sobre sentimentos que eram inerentes a toda sua geração. Ao falar do eu, falava de todos. Acho que essa foi sua grande habilidade como letrista.”
Por meio de suas canções, Renato Russo falava de forma lírica, mas clara e universal, sobre os distúrbios da humanidade. E tais composições continuam sendo ouvidas hoje, como se tivessem sido feitas nos anos 2000.
Muitos “Renatos”
Renato Russo era conhecido por ter um humor bastante inconstante, que oscilava entre alegria e tristeza em curtos espaços de tempo. Muitas vezes, brigas com integrantes da banda e amigos faziam parte de sua rotina.
Marcelo Bonfá diz que essas alternâncias eram próprias da personalidade dele, mas também potencializadas pelo uso de drogas. Mesmo assim, entre os amigos, “Juninho” era um cara extremamente doce. Dado afirma guardar apenas boas lembranças, relembradas por ele todo dia 27 de março, como em um ritual. “[Lembro] principalmente dos dias de domingo, comendo cachorro-quente em casa e jogando aquela brincadeira de adivinhar, tipo mímica”. Segundo ele, nestes momentos, Renato era um cara bastante divertido, do tipo que falava besteiras o tempo inteiro, uma pessoa “leve, tranquila e engraçada”. “Mas ele tinha o lado negro, ácido do rock. As oscilações de personalidade entre o Juninho e o Russo eram enormes, e quando ele encarnava o fundo do poço era terrível”.
Essas várias facetas também se manifestavam nas ambições artísticas de Renato. De acordo com Carlos, a partir de materiais e anotações encontrados no apartamento do cantor, localizado no bairro de Ipanema, no Rio de Janeiro (local mantido pela família Manfredini até hoje), Renato não se enxergava como o vocalista da Legião Urbana pelo resto de sua vida. “Ele tinha três planos: um era ser músico, depois cineasta e, por fim, escritor. Ele mesmo não encarava o rock como uma profissão que seria levada pelo resto da vida.”
Legião Urbana
Não há como falar de Legião Urbana sem falar de Renato Russo. Assim como é impossível falar de Renato Russo sem citar a Legião Urbana. A banda foi formada em agosto de 1982, após o término do antigo grupo liderado por Renato, o Aborto Elétrico. Na ocasião, Russo brigou com o baterista Fê Lemos, que depois se juntou ao irmão Flávio e a Dinho Ouro Preto, formando o Capital Inicial.
A primeira formação da Legião contou com Renato (que além de cantar, também atuava como baixista), Marcelo Bonfá (baterista), Paulo Paulista (tecladista) e Eduardo Paraná (guitarrista). Dado Villa-Lobos entrou em 1983, quando Paulista e Paraná saíram. O baixista Renato Rocha entrou no mesmo ano em que Dado, deixando a banda no lançamento do quarto álbum, As Quatro Estações, em 1989 – considerado o maior sucesso da Legião, tendo alcançado a marca de 1,8 mi de cópias vendidas.
O legado dos treze álbuns lançados pela banda – oito de estúdio, três ao vivo e duas coletâneas -, marcou a música brasileira, com composições, em geral, de autoria do vocalista. Entre os maiores sucessos estão “Geração Coca-Cola”, “Eduardo e Mônica”, “Ainda É Cedo”, “Pais e Filhos”, “Será” e “Índios”, para citar apenas alguns.
Em 1997, cerca de um ano após a morte do cantor, foi lançado o disco O Último Solo, também com músicas feitas fora da Legião.
Reunião
A primeira vez em que Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos se reuniram, sem Renato Russo, foi em Montevideo, no Uruguai, em dezembro de 2008.
Na ocasião, várias bandas uruguaias se juntaram para prestar uma homenagem à Legião Urbana. O repertório contava com 20 músicas da banda – todas cantadas por eles, sendo dez delas com a participação de Bonfá e Villa-Lobos.
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