Duas barragens rompidas, pontes submersas, estradas desmoronadas, pessoas desabrigadas, animais mortos desaparecidos, casas inundadas. Em pouco mais de uma semana de chuvas intensas, a força da correnteza arrastou tudo o que havia pela frente no Sul da Bahia, nesta que vem sendo considerada a pior enchente desde o ano de 1986.
Todos os eventos estão fartamente documentados por fotos e vídeos feitos por moradores e publicadas nas redes sociais.
“Faz 35 anos que não se vê nada parecido por aqui”, declara o prefeito de Camacan, Paulo do Gás (Podemos). Ele trabalha para tapar uma cratera de quatro metros de profundidade e nove de largura no km 21 da estrada que dá acesso à Região de Nanci, uma comunidade de 2 mil pessoas que estão isoladas.
Devastação em Canavieiras
A imagem de um ônibus circulando pela Rodovia BA-001 cercada de água por todos os lados na página @amocanavieiras do Instagram é um dos retratos mais desoladores e fiéis do atual estado de devastação na área.
Canavieiras foi uma das cidades mais afetadas, sobretudo na zona rural. “O cálculo que se faz aqui é que até o momento os fazendeiros já perderam mais de 200 cabeças de gado na região”, diz o ex-vereador Ricardo Dantas.
Os animais foram arrastados ou morreram afogados no pasto. A água está baixando lentamente, mas isso não significa que o pior já passou.
Um comunicado conjunto da Prefeitura e da Defesa Civil Municipal alerta as populações ribeirinhas a buscarem abrigo em locais seguros, uma vez que as comportas da barragem de Itapebi tiveaem de ser abertas porque a barragem atingiu o volume útil. A barragem de Itapebi tem 120 metros de altura e foi construída em 2004 na cidade homônima, no Extremo Sul baiano.
Em Itamaraju, professores se articulam apra ajudar alunos isolados. Em Jucuruçu, imagens aéreas registraram o estrago provocado pelas tempestades. A cidade foi tomada por lama e 500 famílias ficaram desabrigadas.
Perdas em terra indígena
Na Terra Indígena Caramuru-Paraguaçu, que abrange áreas dos municípios de Itaju do Colônia, Camacan e Pau Brasil, a população da aldeia pataxó hã hã hãe também se queixa da perda das roças e de animais. “Os porcos e as galinhas desapareceram. A água levou tudo”, diz o cacique Flávio Trajano.
O principal desafio da aldeia agora é romper com o isolamento provocado pela destruição quase que completa da estrada de 23km que liga a sede do município de Pau Brasil à localidade da aldeia onde vive, conhecida como Água Vermelha, onde residem 240 famílias.
Sem estrada, o caminhão pipa que abastece a comunidade está impedido de chegar, e os indígenas estão bebendo água da chuva. “Ontem a Prefeitura de Pau Brasil mandou uma máquina pra dar uma amenizada em um trecho que estava mais crítico, mas só quem mora do outro lado do rio pode passar a pé ou de moto, de carro não passa”.
Sudoeste do estado e Chapada Diamantina também foram castigados
Além do Sul e do Extremo Sul, as chuvas também causaram estragos em outras regiões do Estado.
No Sudoeste, duas barragens de pequeno porte romperam em Apuarema. A cidade ficou alagada e muitos moradores tiveram de deixar as suas casas. A maioria dos 243 desabrigados residia no Bairro Vermelho. Eles estão alojados no colegio Aurino Nery.
“Estamos trabalhando junto com o corpo de bombeiros e a Defesa Civil para evitar que outras barragens ameaçadas também se rompam, em Jaguaquara, Barra da Estiva e Itaquara”, revela Paulo Luz, do Inema (Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos) de Vitória da Conquista.
As chuvas também castigaram a Chapada Diamantina
Em Lençóis, o alagamento deixou desabrigados, que foram alojados na Casa Paroquial. “As ruas da cidade estão elameadas e uma parte da vegetação bloqueou a estrada, uma casa desabou, mas felizmente ninguém se feriu”, relata o Padre Vagne Alves da Gama, 54.
Autoridades planejam sobrevoo sobre áreas atingidas
O governador Rui Costa (PT), prometeu fazer um sobrevoo de helicóptero nos municípios do Sul mais afetados pelas chuvas na manhã deste domingo (12).
O presidente Jair Bolsonaro também marcou um sobrevoo, para este domingo, às 10h.
Isso se o tempo permitir. O Instituto Nacional de Meteorologia (InMet) publicou um alerta de que até às 11h deste domingo, 12, está prevista a incidência de 30mm até 100mm de chuva numa área que abrange, além do Sul e Extremo Sul baianos, Vale do Mucuri e Norte de Minas, Vale do Jequitinhonha e Centro Sul da Bahia.
Conteúdo: UOL