Descriminalização da cultura das espadas é tema de discussão em Audiência Pública na Assembleia Legislativa da Bahia
Descriminalização das espadas, caminhos para regulamentação e a importância da cultura popular para a economia e turismo, foram alguns dos assuntos discutidos na Audiência Pública “A Criminalização da Cultura da Espada no Estado da Bahia”, realizada na tarde desta quinta (4), na Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), em Salvador.
A audiência teve representantes do poder legislativo, judiciário, governo do estado e sociedade civil, além de ser transmitida pela TV Alba e aplicativo Zoon.
Promovida pelo deputado estadual Jacó Lula da Silva (PT), a audiência teve como principal objetivo discutir a valorização da cultura popular e a descriminalização da tradição das espadas para as cidades que são adeptas à tradição. “O São João é um dos maiores eventos culturais, econômicos e sociais do estado da Bahia. Enriquecendo essa cultura popular existe a importante manifestação conhecida como guerra de espadas, presente em diversos municípios baianos. A guerra de espadas é um bem histórico e patrimônio da população baiana”, enfatizou o deputado.
Ainda de acordo com Jacó, as pessoas que são adeptas à tradição, não podem mais aceitar serem chamadas de criminosas ou assaltantes de banco. “Não podemos admitir isso. Temos que ter respeito, mas precisamos também ter regulamentação e critérios”, destacou.
“Não é necessário tanto esforço para reconhecer que a guerra de espadas se tornou ao longo de tantos anos uma das manifestações culturais mais distintivas da Bahia”, afirmou o historiador Filipe Cezarinho, enfatizando que, além de gerar renda, no momento de fabricação das espadas, revela-se saberes populares que podem ser caracterizados como patrimônio material e imaterial.
“Através da oralidade, foram aprendidas formas complexas de extração do barro, do bambu, feitura da pólvora, desenvolvimento de habilidades matemáticas para furação das espadas, misturas de composições químicas e muitos outros saberes. O segredo está na reciprocidade, o individual cede lugar ao comunitário”, concluiu Filipe.
O antropólogo Rodrigo Wanderley afirma que a guerra de espadas é uma manifestação da cultura popular e a história do Brasil ela é repleta de criminalização da cultura popular. “A Guerra de espadas não é a primeira e nem será a última a ser criminalizada. O que nós queremos não é afetar o direito de ninguém de ir e vir, não é queimar a casa de ninguém, nós queremos encontrar um lugar para ser atendido por políticas públicas, de cultura, de geração de emprego e renda, não é o direito penal que vai solucionar nossos problemas enquanto sociedade”.
“São 11 anos de proibição e a gente vem se arrastando para um momento crítico, porque a cada ano que passa, o número de pessoas que participam da queima das espadas vai crescendo. Chegou ao limite para debatermos e chegarmos em um meio termo”, explicou o presidente da associação de Cruz das Almas, Cléo Rocha.
Representando as espadeiras da Bahia, Tyta Santos, única mulher a compor a mesa na audiência, ressalta a importância da economia durante o mês junino. “Durante décadas entre os meses de abril e junho, a cidade entra em clima junino, carregado de uma cumplicidade e companheirismo onde o trabalho coletivo aquece os corações e a economia local”, enfatizou.
O professor Jânio Roque, o deputado estadual, Marcelino Galo, os vereadores da cidade de Cruz das Almas, Pedro Melo, Paulinho Policial, Renan de Romualdo, o presidente da Câmara de Vereadores, Thiago Chagas, o jurista Vagner Santana, o vice-prefeito, André Eloy, e espadeiros das cidades de Senhor do Bonfim, Governador Mangabeira, Salvador, além de outras autoridades também se fizeram presentes na audiência.
Por: jornalista Flávia Vieira, para a Revista Recôncavo