Bruna Alexandra Colzani foi agredida pelo namorado e está internada desde quinta-feira (29), com traumatismo craniano. A reportagem a seguir é do Jornal Correio.
“Minha filha foi agredida pelo namorado, teve um traumatismo craniano e foi levada para o hospital. O pai do agressor foi cúmplice, ele deu banho nela e tentou apagar todas as provas do crime”, relatou Rosana Soares, de 54 anos, mãe de Bruna Alexandra Colzani, 35, que está internada no Hospital Geral do Estado (HGE) desde quinta-feira (29). O namorado, identificado pela mulher como Henrique Gonçalves Vilela, 25, foi autuado em flagrante como suspeito do crime, mas já responde em liberdade. Rosana prestou depoimento na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam Brotas) nesta segunda-feira (2).
Professora da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), em Cachoeira, Rosana relata que encontrou a filha na Unidade de Terapia Intensiva do HGE (UTI) depois de três dias de procura. Ela detalha que entra em contato com a designer de interiores todos os dias e que não conseguiu se comunicar com Bruna no dia 29. Então, com a preocupação de que pudesse ter acontecido algo, a mãe começou a procurar os amigos e vizinhos da vítima, mas não obteve retorno. Na sexta (30), ela tentou novamente, mas seguiu sem nenhuma novidade.
Depois de procurar por dois dias, logo no início da manhã do sábado (31), Rosana decidiu ir até a casa dela, no bairro de Nazaré, em Salvador. Ao chegar no local, encontrou os portões fechados e os cachorros de estimação de Bruna sozinhos na varanda, sem comida e água, em meio à sujeira de fezes e urina. Para tentar ajudar os animais, a professora chamou um chaveiro e abriu o cadeado. Foi quando conseguiu confirmar que a designer de interiores realmente não estava na casa.
Rosana, então, seguiu com a busca. Ela foi até a casa do namorado da filha, que fica no bairro do Dois de Julho. “Eu chamei ele, mas a vizinha disse que ele tinha saído há cerca de 30 minutos em um carro. Então andei pela região, porque Henrique é filho de um ex-policial muito conhecido lá. Eu entrei nos bares procurando a Bruna, perguntei do pai e do filho, mas ninguém falava nada, ninguém tinha visto nada”, diz a professora.
Quando chegou em casa, por volta das 18h do sábado, Rosana recebeu um recado do pai de Henrique, o ex-policial identificado apenas pelo prenome de Joas, com um pedido para que ela entrasse em contato. “Eu liguei para ele e perguntei da Bruna, que não tinha visto há quase três dias. Perguntei ‘cadê minha filha’ e ele ‘calma, Rosana, não fique preocupada, a Bruna e o Henrique tiveram uma briguinha de casal, mas não foi nada sério, eu só levei ela para o hospital porque estava com uma dorzinha de cabeça’. Mas minha filha teve um traumatismo craniano”, conta a mãe da vítima.
Em nota, a Polícia Civil informa que um homem, de 25 anos, foi autuado em flagrante por lesão corporal, na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam Brotas), na noite de 28 de dezembro, após ter sido conduzido à unidade por policiais militares. Segundo registrado em ocorrência, ele é suspeito de ter agredido fisicamente a sua companheira. A corporação também diz que uma medida protetiva de urgência foi solicitada e a unidade pediu a prisão do autor das agressões, que foi liberado na audiência de custódia e responderá em liberdade.
O que diz a Sesab?
Bruna ficou internada três dias sem o conhecimento da mãe. O pai do agressor visitava Bruna todos os dias. Rosana disse que não recebeu ligação do hospital para avisar sobre o estado de saúde da filha. A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informa que a vítima chegou lúcida ao hospital e foi atendida por uma equipe de assistência social.
“Bruna Alexandra Colzani, paciente de 35 anos, deu entrada no HGE no dia 29/12/2022, por volta de 01h30 da manhã, tendo no registro inicial da ocorrência tratar-se de caso de agressão por socos do seu companheiro, ocorrida em domicílio, no bairro de Nazaré”, traz a nota da pasta.
No hospital, Bruna disse que estava acompanhada por dois amigos, um deles era o pai do agressor, o que a equipe de saúde só ficou sabendo depois que a mãe foi até a unidade. O outro amigo não foi identificado. A nota da Sesab diz ainda que a vítima não fez o exame de corpo de delito porque alegou que estava sentindo muita dor. “Os profissionais do Serviço Social fizeram várias tentativas de contato com a genitora sem sucesso”, acrescenta.
Ainda segundo a Sesab, Bruna não realizou restrição de visita, por isso o sogro conseguiu visitá-la. “Não temos certeza se a paciente tem conhecimento sobre a repercussão do caso e nos casos em que nos deparamos com a lucidez da vítima, devemos respeitar sua decisão de como conduzir o caso, nos foi informado que a queixa foi devidamente formalizada na delegacia”, finaliza a pasta, por meio de nota.
De acordo com o HGE, a paciente tem evoluído com melhora clínica. Ela estava internada em unidade fechada UTI e hoje no final da tarde recebeu alta para Unidade Intermediária com bom prognóstico.
Envolvimento do pai
A professora da UFRB afirma que o pai de Henrique soube do crime e ajudou o filho a apagar todas as provas do que tinha acontecido. “Minha filha foi agredida, mas o pai dele foi até o local e deu banho nela, limpou o sangue dela e mascarou os machucados. Ela prestou depoimento em uma delegacia virtual, com ele do lado, coagindo ela. No laudo, a pessoa que atendeu colocou que a Bruna não tinha nenhuma lesão”, revelou Rosana.
A mãe afirma ainda que o ex-policial e então sogro da sua filha tomou o celular dela, impedindo que ela entrasse em contato com alguém para pedir ajuda. Rosana não foi chamada para comparecer ao hospital, mas o pai do agressor ia ao local todos os dias: “Minha filha, toda vez que tentava abrir o olho, com o rosto todo deformado, quem ela via? O pai do agressor. Ele cerceou ela de uma maneira que ela não conseguiu falar com ninguém”.
Henrique segue em liberdade. Rosana relata que ele estava tomando cerveja em um bar no bairro Dois de Julho, nesta segunda (2). Segundo ela, um vizinho relatou que o agressor efetuou três disparos de arma de fogo no dia 28, que não atingiram Bruna. Para a professora, o pai do agressor é cúmplice do crime. Ela conta que ele sequestrou a designer de interiores, pois impediu que ela entrasse em contato com as pessoas e não compartilhou sua localização com ninguém.
“Se ele levou ela na delegacia às 21h50 do dia 28, e trouxe no hospital no dia 29, imagina o que minha filha passou na mão desses dois. Para mim, o pai é tão agressor quanto o filho. Agora eu quero que a justiça seja feita”, denunciou Rosana.
O pai de Henrique foi procurado, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.
O relacionamento
Bruna e Henrique estavam juntos há quase dois anos. Rosana admite que já tinha visto sinais de violência no homem, que era muito ciumento, e tinha alertado a designer, que não se atentou à advertência. Pouco antes do Natal, a professora chamou a filha para participar da ceia que aconteceria no dia 24, mas ela negou, disse que estava brigada com o namorado e “tentando resolver as coisas”, por isso, passaria o feriado com ele.
“Ela nunca me disse que sofreu alguma violência, mas ela já disse que tentou terminar o relacionamento e ele não deixava ou que ela gostava dele e voltava”, pontua a mãe.
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